Capítulo 3
She will be loved
Ashley corria pelos corredores como se procurasse alguém. O desespero em seu rosto era notável, o que fazia muitos olharem. Ao avistar Joe, ela disparou em sua direção, e com lágrimas nos olhos ao se aproximar dele o puxou pela camisa e o encostou na máquina de refrigerante.
-O que tá acontecendo? – Joe disse preocupado. – Por que tá chorando? – Ele secou uma lágrima em seu rosto.
-Precisamos conversar fora daqui! – Ela sussurrou ainda chorando.
-Vamos ao pátio, não tem ninguém lá agora. – Ele disse com a voz trêmula. Os dois caminharam apressados para o pátio, onde realmente não havia quase ninguém devido ao horário de aula. Joe se sentou no primeiro banco que avistou e puxou Ashley para se sentar ao seu lado, porém ela foi resistente e se manteve de pé em sua frente. -Tá me assustando, Ash. – Disse Joe pegando em sua mão. – O que houve? – Ele mordeu os lábios.
-Eu to grávida, Joe. – Ela se desesperou e começou a chorar ainda mais agora.
Joe a encarou por alguns segundos, com os grandes olhos castanhos arregalados, sem dizer nenhuma palavra. Enquanto Ashley chorava descontroladamente com as mãos no rosto Joe tentava encontrar algo para dizer, mas as palavras simplesmente não saiam.
-Como isso é possível? – Foi a primeira coisa que conseguiu dizer.
-Como? – Ela riu. – Tá brincando comigo, Joe? – Ela se irritou.
-É meu? – Ele levantou a sobrancelha.
-Ouviu o que acabou de dizer? – Ela disse demonstrando o quão chocada ficou com o questionamento dele.
-Eu sei o que eu disse, Ashley, a gente se protegeu, eu me protegi, essa criança não pode ser minha. – Ele se levantou exaltado.
-Seu imbecil, o que você acha que eu sou? – Ela deu uma tapa em seu ombro que o fez pegar em seus braços com força. – Tá me machucando, Joe, me solta! – Exclamou chorando.
-Essa criança não é minha, Ashley, não vai me enganar. – Ele deixou as lágrimas encherem seus olhos.
-Não tenta fugir da verdade, você sabe que é, é nosso, e eu não vou encarar isso sozinha, eu preciso de você! – Ashley tentava gritar, mas sua rouquidão devido ao choro não permitia.
-Mas... – Ele a soltou. – Como pode isso, Ashley? – Ele passou as mãos na cabeça.
-Da última vez, logo depois de termos discutido, a gente não se cuidou, esqueceu? – Ela se sentou chorando.
-Como eu pude ter sido tão imbecil? Era o meu dever. – Ele chutou o banco.
-Não adianta se culpar agora, a gente tem que dar um jeito nisso, Joe. – Ela se levantou.
-Como assim dar um jeito nisso? – Joe a encarou confuso.
-Meus pais não vão aceitar isso. – Ela gaguejou.
-“Isso” é o nosso filho, Ashley. – Ele disse entre os dentes.
-Eles não vão aceitar essa criança de jeito nenhum, ainda mais sendo seu. – Ashley disse irritada.
- Eu vou assumir e dar pra essa criança o que ela precisar. Olha, meu amor eu fiquei nervoso e disse coisas que não devia, me desculpe, mas eu prometo que eu cuidarei de você e do nosso filho. – Joe pegou em suas mãos.
-Não sei se quero ter essa criança, Joe. – Ashley disse encarando os pés.
-O que? – Joe a encarou confuso. – Está dizendo que quer abortar o nosso filho? – Ele soltou suas mãos.
-Talvez. De que adianta essa criança vir ao mundo se não vai ter amor pra ela, uma casa, um conforto, não quero que ninguém venha ao mundo pra passar dificuldade, você e eu não somos formados, nem temos emprego, nem ajuda de ninguém. – Ela deixou a raiva tomar conta de sua voz.
-Eu vou dar amor o suficiente pra ela, Ashley. – Joe disse grosseiro. -Nem que eu tenha que morar debaixo da ponte com essa criança, você não vai abortar, tenha e me dê, eu cuido dele. – Disse Joe.
-Sozinho? – Ela riu irônica.
-Se preciso sim. – Joe mordeu os lábios.
- Você não cuida nem dos seus bichinhos virtuais no celular, Joe. – Ashley falou demonstrando sua irritação. –Além disso, a decisão é minha, e você não vai interferir, comece a arranjar dinheiro pra me ajudar a tirar essa criança, ou então eu dou meu próprio jeito. – Ela disse chorando.
-Não é só sua. – Joe a pegou pelo braço.
-Você já estragou coisas demais, Joe, mas o meu corpo e a minha vida, você não vai estragar mais. – Ela disse se soltando de seus braços e correndo em direção ao prédio da escola. Joe pasmo com as palavras de Ashley despencou sobre o banco, e levou as mãos à boca, antes de começar a chorar desesperadamente. Depois de alguns longos minutos, Joe ainda estava ali parado sem reação. Nesse momento Duan vinha caminhando pelo gramado verde do pátio e o avistou, indo até a sua direção.
-Joe, tudo bem? – Duan perguntou ao constatar seu choro.
-Duan, eu to perdido! – Joe disse agoniado.
-O que houve? Você e a Ashley brigaram? – Duan arqueou a sobrancelha. – Porque se for se acalma, eu e a Belatrix brigamos o tempo todo e tudo fica bem depois, então pode se acalmar. – Duan riu torto.
-Quem dera fosse só isso. – Joe suspirou fazendo Duan encará-lo confuso. – Duan, somos amigos há anos. – Disse. – Posso te contar um segredo? – Perguntou quase num pedido.
-Claro, pode confiar em mim, cara, o que houve? – Duan deu um tapinha de leve em suas costas.
-Ashley está grávida. – Joe foi direto ao ponto fazendo com que Duan em questão de segundos arregalasse seus pequenos olhos e deixasse o queixo cair para uma expressão de total surpresa.
-Eu não sei o que dizer. – Duan engoliu a seco. – O que vocês vão fazer? – Perguntou demonstrando sua preocupação.
-Eu não sei, Duan. – Joe suspirou. – Eu fiquei com raiva na hora e acho que falei coisas absurdas, e agora ela quer tirar o bebê. – Joe choramingou. – Ela não me quer mais por perto, não me quer dar o direito de cuidar do nosso filho. – Joe bufou. – Duan, não tive um pai, você sabe disso, só tenho minha mãe, e eu sempre prometi a mim mesmo que seria diferente e não fugiria, e eu não quero fugir, quero encarar isso e cuidar do meu filho com todo o meu amor. – Ele encarou Duan que sorriu de leve.
-Nossa, Joe, eu nem sei o que dizer. – Duan ainda parecia assustado. – E agora? – Perguntou.
-E agora que eu vou fazer de tudo pra fazê-la mudar de ideia. – Disse encarando o vazio. – Obrigado por me escutar. – Ele abraçou Duan que sorriu.
-Vou guardar seu segredo, cara. – Ele sorriu. – Eu queria poder fazer mais pra ajudar vocês. – Disse.
-Infelizmente não tem muito a ser feito nem por você e nem por ninguém, Duan, mas só o fato de me ouvir já foi uma grande ajuda. – Joe sorriu. – Vou procurá-la. – Ele se levantou e deu um último sorriso pra Duan antes de correr em direção ao prédio principal do colégio para procurar Ashley. Duan se levantou e foi na direção de seu carro.
Já eram quase duas horas e Harry estava de camiseta e calça jeans em seu quintal com as mãos sujas de graxa, pois mexia no motor de seu carro. Distraído ouvia música enquanto arrancava algumas peças do motor, e sem perceber Duan se aproximou e pulou em suas costas assustando-o.
-Fala aí, cara! – Disse Duan rindo – Ainda não deu jeito nessa lata velha? – Perguntou se encostando no carro.
-Cala a boca, moleque, respeite os mais velhos, sou seu professor, mas você tem razão, tá difícil dar um jeito nesse carro. – Disse Harry fechando o capô com força e pegando um pano para limpar as mãos.
-Tudo bem com você? Parece nervoso... – Perguntou Duan entrando na casa de Harry que entrou logo depois dele.
-Não sei bem, minha cabeça está cheia! – Disse Harry se sentando e dando uma golada na garrafa d´água.
-Isso tem haver com alguma garota? Faz anos que não te vejo com ninguém. Se bem me lembro sua última namorada foi aquela garota de aparelho e óculos do ensino médio, como chamavam ela mesmo? Betty dentes de lata? – Ele perguntou fazendo Harry rir.
-Você é um babaca. – Harry falou contagiando Duan que logo se sentou ao seu lado. -Bom tem, quer dizer eu acho que tem, mas é loucura, completamente insano, tão insano quanto falar sobre relacionamentos com um adolescente de dezessete anos que nem sabe nada sobre o assunto! – Disse Harry colocando as mãos sobre o rosto.
-Qual foi, Hazz, só porque depois da faculdade você virou um velho encalhado, não desconte em mim, pelo menos eu tenho namorada! – Duan começou a rir.
-Grande coisa! Acho que ela não é garota pra você! – Disse Harry encarando a janela, sem saber se realmente devia dizer aquelas palavras, mas preferiu arriscar.
-Por que diz isso? Não achou ela linda? – Duan se pôs de pé e caminhou até a geladeira aonde pegou uma maçã.
-Ela é muito bonita, mas parece tão fútil... – Harry falou a palavra baixa e devagar, cruzando os dedos uns nos outros.
-E o que não é fútil pra você, Harry? – Perguntou Duan mordendo a maçã.
-Bom, a Giovanna não é fútil, assim como a menina nova que entrou na escola, também não parece ser. – Harry abriu um sorriso torto, e encarou o chão.
-Agora eu entendi! – Duan bateu as mãos no ar e se pôs a rir – Gostou dela, e por isso acha insano? – Perguntou Duan sorrindo.
-Não gostei dela, Duan, cala a sua boca! – Harry se levantou e tirou a camisa suja de graxa. –Ela é linda. – Harry fez uma pausa como se pensasse no rosto de Dianna e sorriu. – Mas ela é minha aluna, tem a idade da Giovanna, poderia ser minha irmã como vocês. – Harry soltou uma risada de leve.
-E daí? Ela é linda, e todo mundo percebeu o jeito como vocês se olharam. Ela pareceu gostar de você. – Duan sorriu.
-Pareceu é? – Harry perguntou com um sorriso bobo. -Não, é claro que não, isso seria loucura, você sabe que sempre fui lógico e por isso não acredito nessas coisas de amor à primeira vista. – Harry riu e se sentou no chão.
-Pois é quem diria não é, Harry? Depois de anos criando teorias e fórmulas para provar e encontrar as respostas e explicações para tudo, você caiu na velha pegadinha do amor à primeira vista. Olhou pra ela tão intensamente que até eu me comovi! – Duan o fitou sério. – Fala a verdade pra mim, cara, somos irmãos, não vai sair daqui! – Duan deu um sorriso de lado fazendo Harry bufar e por a cabeça pra trás.
-Não seja ridículo, Duan, ela é linda e sim e confesso que eu fiquei um pouco atraído quando olhei pra ela na aula, afinal ela é linda e inteligente, vai ser minha primeira aluna em química avançada, mas eu não estou caído por ela, não estou, porque eu sou professor dela, e isso seria loucura, eu seria despedido e preso, o que não vale a pena por mais linda que ela seja. – Ele disse e logo Duan gargalhou fazendo-o franzir o cenho. – O que foi? – Perguntou confuso.
-Falou que ela é linda três vezes. Eu disse pra você que isso ia acontecer um dia! – Duan continuou rindo enquanto Harry se permitiu corar as bochechas.
-Eu disse é? – Harry encarou o vazio. – Não, claro que não, eu não disse e eu não estou caído por ela. – Harry falou pontual fazendo Duan franzir o cenho num semblante esperto.
-Até parece. – Duan sorriu.
-Fala de mim, mas na verdade é você quem deve se sentir assim com a sua namoradinha perfeita. – Harry virou os olhos.
-Na verdade, nunca me senti assim com ninguém eu acho, sei lá, eu gosto da Bella, mas às vezes eu só quero ficar longe dela, pra não ter que ouvir ela me dizendo que estou engordando de novo, e que não me cuido. Ela é um tipo de céu e inferno, é tão arrogante, mas de uma forma tão angelical que eu simplesmente acabo gostando, mas não como você está! – disse Duan com os braços cruzados olhando pra Harry.
-Nossa, assustador, e, aliás, eu não estou de jeito nenhum. - Harry bufou.
-Sei. – Duan jogou uma almofada em Harry e os dois se puseram a rir.
-Não vai comentar isso com ninguém, nem mesmo com a Giovanna, sabe que ela tem mania de unir casais, e vai querer insistir nessa maluquice. – Disse Harry torcendo os lábios.
-Combinado! – Duan sorriu. – Vamos almoçar? Minha mãe tá esperando! – Ele caminhou até a porta.
-Vamos! – Harry correu em direção a porta para alcançá-lo. Os dois caminharam juntos até a porta da casa dos Young, mas antes mesmo que pudessem abrir a porta, a mesma se abriu dando lugar a Dianna e Giovanna que sorriam conversando. Quando Harry a viu pôde sentir seus pelos se arrepiarem, e não pôde conter um sorriso bobo assim que ela o encarou, novamente com aquela intensidade que os profundos olhos verdes dela lhe causavam.
-Olha só quem está aí... – Duan sorriu cutucando Harry com o cotovelo.
-Senhorita Allen... oi... – Harry sorriu bobo.
-Ah... oi professor. – Dianna respondeu com as bochechas vermelhas antes de sorrir boba também, principalmente quando seus olhos encararam os músculos de Harry descobertos, sem nenhuma camisa.
-Dianna, esse é o meu irmão, Duan. – Giovanna disse pra Dianna enquanto Duan a cumprimentava.
-É um prazer te conhecer, Duan. – Dianna sorriu pra ele.
-O prazer é todo meu, Dianna. – Duan riu. – Mas, e então, o que te traz aqui? – Perguntou levando os olhos a Harry que ainda mantinha os olhos fixos nela, como se admirasse cada detalhe dela enquanto a mesma falava e sorria.
-Eu vim pegar meu uniforme. – Explicou sorrindo.
-Então você é uma líder de torcida agora? Tentador, não acha, Hazz? – Perguntou fazendo Harry arregalar os olhos.
-Ah, parabéns. – Harry disse disfarçando.
-Obrigada. – Dianna sorriu fazendo-o engolir a seco. – Bom, eu já vou... Obrigada, Gio, e prazer Duan. – Ela completou antes de cumprimentar os dois. – Foi um prazer vê-lo de novo Sr. Evans. – Ela disse antes de se inclinar na ponta dos pés para cumprimenta-lo com beijos carinhosos em seu rosto.
-Igualmente, senhorita Allen. – Harry disse com as bochechas coradas. Dianna corou também e logo caminhou até o jardim para entrar em seu carro e dar a partida no mesmo. Harry ficou ali parado encarando-a com um sorriso bobo, e sem perceber sua mão caminhou até o rosto acariciando o local onde Dianna havia acabado de depositar um beijo doce. Giovanna e Duan o encaravam.
-Eu não acredito! – Giovanna riu fazendo-o despertar.
-O que foi? – Harry perguntou confuso.
-Está apaixonado por ela! – Giovanna arregalou os olhos e em seguida um enorme sorriso carinhoso.
-Eu disse a ele. – Duan completou.
-Não estou apaixonado, por que vocês são tão loucos? – Harry disse nervoso antes de adentrar e deixar os dois ali.
-Vi a forma como olhou pra ela. – Giovanna gritou de longe. – E se quiser disfarçar pelo menos tire esse sorriso bobo do rosto. – Completou. Já sentado à mesa Harry suspirou, mas logo se permitiu sorrir de novo.