Capítulo 3
She will be loved
O sinal acabara de bater anunciando o início do primeiro tempo de aula, os alunos afobados ainda comentavam pelos corredores sobre a festa que acontecera no sábado, afinal não era sempre que nas festas um novato caíra aos socos com um jogador de futebol para defender uma menina popular, e apesar das brigas entre Duan e Bella serem costumeiras pra todos, era a primeira vez que tinha ocorrido por causa de uma outra garota, principalmente uma das não populares. O ano realmente mal havia começado, mas os acontecimentos já eram fervorosos o suficiente pra todos os alunos se entupirem de fofocas e comentários dos mais engraçados aos mais maldosos. Aos poucos o corredor se esvaziou e restou apenas uma garota de belos e longos cabelos loiros e cacheados, que se encontrava lendo um papel encostada no armário. Ela parecia concentrada demais tentando decifrar aquelas abreviações e códigos que a informariam algo que nem ela mesma parecia saber no momento. Seus olhos estavam focados e o papel fortemente segurado na frente de seu rosto enquanto ela dava a ele uma expressão quase que vazia de total dúvida.
-É muito a minha cara mesmo ficar sem saber onde é a minha sala no primeiro dia de aula. -Sussurrou para si mesma. –Sinceramente, Dianna...-Suspirou encostando sua cabeça no armário e fechando os olhos. Não que se considerasse desastrada ou perdida normalmente, mas não estava acostumada com mudanças o que tornava todas aquelas novidades um extremo desafio pessoal pra ela.
-Já não tá na hora da sua aula? - A garota foi despertada por uma voz. Abriu os olhos rapidamente pensando que seria um professor ou inspetor, porém era apenas uma garota aparentemente da sua idade. Ela usava o uniforme de líder de torcida do colégio, com seu cabelo castanho claro preso em um alto rabo de cavalo. A garota sorriu gentilmente. -Desculpe, eu te assustei? -Giovanna perguntou sem graça.
-Um pouco. -Sorriu sem graça. -Prazer Dianna Allen. -Disse estendendo a mão para Giovanna que logo apertou a fim de cumprimentá-la.
-Giovanna Young. -Sorriu de volta. -Mas então, não está no horário da sua aula? -Ela perguntou olhando para o corredor vazio.
-Sim, mas eu sou nova e confesso que estou perdida. -Dianna deu um riso de lado quase derrotado.
-Bom, eu posso te mostrar onde é. Já estou atrasada mesmo. Qual é a sua primeira aula? -Giovanna perguntou e começou a andar com Dianna ao seu lado.
-Química, eu sou do último ano. -Dianna disse voltando a olhar para a folha com seus horários em sua mão ainda confusa.
-Ah eu também, vamos ser amigas de classe. -Giovanna disse animada. -Então é aqui mesmo. -Ela parou em frente a uma sala e deu duas batidas leves na enorme porta de madeira antes de abri-la finalmente. Giovanna deu um bom dia baixo para o professor e logo se dirigiu até uma das cadeiras bem no centro da sala. Dianna respirou fundo ao ver algumas pessoas começando a encará-la. Começou a caminhar logo depois de puxar um pouco sua jaqueta a fim de arrumá-la, como se o nervosismo a fizesse pensar que tinha algo extremamente errado em si para todos estarem ali encarando-a como se nunca tivessem visto alguém parecido com ela na vida.
-Com licença. -Dianna se aproximou da mesa do professor que inicialmente não a encarou, distraído demais anotando algo em um dos inúmeros papéis que estavam sobre sua mesa recém polida. Ele simplesmente não tirou os olhos dos papéis e continuou com a cabeça baixa. -Bom dia, professor, eu sou aluna nova, o diretor mandou eu entregar esse papel para o senhor assinar, poderia fazer esse favor? -Sua voz saiu suave.
Escute Saving al my love for you, Glee.
-Bom dia. -Harry disse e levantou a cabeça para encará-la. Por alguns instantes os dois se fitaram intensamente, os olhos verdes de Dianna pareciam atrair os castanhos de Harry como um imã. Eram os olhos mais lindos que ele já tinha visto em sua vida, foi o que pensou de cara, mas aos poucos pôde ver que não eram apenas os olhos, mas todo o rosto, assim como a voz suave que ele inicialmente não ouviu distraído, mas agora queria continuar ouvindo. Alguns alunos começaram a encará-los, percebendo olhares incomuns ali, mas ele simplesmente queria continuar percebendo cada detalhe daquele rosto convidativo. Dianna não conseguia ficar indiferente. Não era algo que costumava acontecer com ela, encarar alguém e simplesmente não conseguir deixar de fazer isso, mas algo dentro de si queria continuar ali naquela linha imaginária formada pelos olhares de ambos, porém suas bochechas a denunciaram quando começaram a corar ao ver um sorriso bobo se formando no canto do rosto de Harry, o que logo o fez despertar e encerrar aquele show gratuito de intensidade. – Me desculpe, qual o seu nome, senhorita? – Ele perguntou tentando manter-se cordial o suficiente para que todos simplesmente apagassem aquela visão anterior.
-Dianna Allen. -Disse e deu um leve sorriso. Harry também sorriu, foi inevitável.
-Pode se sentar, Srta Allen. -Harry disse e Dianna foi sentar em um lugar vazio na primeira fileira da sala. Ele então respirou fundo, mas sentia que queria continuar olhando pra ela algo que o fez rir de leve mais pra si mesmo. Ele encarou Giovanna por um segundo e os olhos um tanto marotos dela o fizeram corar. Ele então limpou a garganta num tossido forçado e deixou suas mãos baterem palmas altas para despertar a todos. -Bom, agora que todos chegaram, podemos começar a matéria. -Harry disse, se levantou e começou a escrever algumas fórmulas no quadro.
Enquanto os alunos começavam a anotar a matéria, começaram também o sussurros. Logo Belatrix se virou para a cadeira de trás onde Charlie se encontrava copiando atentamente a matéria que Harry introduzia no quadro. -Você viu isso? -Bella perguntou, seu tom indignado era claro em sua voz. Charlie levantou a cabeça para encara-la.
-Isso o que? -Perguntou confusa encarando Bella que rolou os olhos impacientemente.
-O Sr Evans encarando essa novata. –Bella encarou Dianna que copiava a matéria atentamente carteiras distantes da dela. Charlie também a encarou.
-Convenhamos que se eu tivesse no lugar dele eu também olharia. -Charlie disse inocente ainda olhando para Dianna. -Olha o cabelo dela, é lindo. -Charlie continuou a observa-la.
-Qual é o seu problema? -Bella perguntou e puxou o rosto de Charlie para encara-la. –Ela não é bonita. Ah por favor. E se fosse pra ele olhar deveria ser pra mim, afinal eu sou a garota mais linda desse colégio e ele o professor mais quente que eu já tive. – Bella deu um sorriso maldoso.
-Senhorita Campbell! -Harry chamou Bella que se virou rapidamente com um grande sorriso no rosto.
-Sim, professor. -Disse. Seu tom era falsamente doce.
-Poderia prestar atenção na aula, por favor? -Pediu sério.
-Ah claro. -Bella respondeu desanimada dando um sorrisinho para Harry que virou para o quadro e começou a explicar a matéria.
Harry se levantou da cadeira após alguns minutos em que deixara os alunos à vontade, na realização de alguns problemas passados por ele no quadro negro. – Vamos corrigir? – Ele sorriu. Com uma das mãos pegou o giz, e com a voz grossa e máscula lia vagarosamente o enunciado do problema de número um. – E então, alguém sabe me responder o que é uma solução tampão? - Harry riu como se soubesse que ninguém provavelmente responderia, mas pra sua surpresa Dianna levantou a mão. – Pois não, senhorita Allen. – Harry engoliu a seco tentando disfarçar o nervosismo que sentiu ao vê-la abrir aquele sorriso.
-Solução tampão é quando você tem duas fórmulas diferentes coexistindo e há uma baixa variação de pH. – Dianna tagarelou antes de abrir um novo sorriso gentil. Harry franziu o cenho, porém sem disfarçar o quanto ficou admirado com a sabedoria de Dianna em sua disciplina.
-Exato. – Ele disse curto. – Mas, ainda não expliquei a fundo essa matéria, como você... – Harry arqueou a sobrancelha.
-Eu sou boa em química. – Dianna riu. – Fiz química avançada como atividade extracurricular desde o primeiro ano, e vou fazer esse ano também. – Disse.
-Vai ser a minha primeira aluna em química avançada como extracurricular. – Harry riu.
-Não entendo... – Belatrix rolou os olhos. – Por que fazer extracurricular de química? Deveria fazer algo menos inteligente, parece combinar mais com você. – Cutucou com um sorriso maldoso em semblante. Dianna sorriu pra disfarçar a irritação.
-Pois é, eu vou precisar de uma extracurricular o que vai me ajudar pra entrar pra Stanford. – Dianna voltou a encarar Harry. -Stanford tem um ótimo programa de química. – Dianna sorriu. – Mas não pretendo fazer apenas isso. – Disse seca.
-Tem sim, mas vai fazer química? Eu poderia te ver fazendo psicologia, moda, ciências sociais, mas confesso que química não passou pela minha cabeça... – Harry a encarou com um sorriso bobo que Dianna fez questão de retribuir.
-As aparências enganam. – Belatrix disse seca na intenção de cortar aqueles olhares, e conseguiu.
-Bom, vamos voltar à aula. – Harry deu um último sorriso pra Dianna antes de se virar para o quadro e começar a escrever a resposta do exercício. Numa fileira mais atrás, Candy e Jenny estavam sentadas juntas. Candy se virou pra ela com um sorriso encantador.
-Já sabe se vai ter um horário disponível pra me ajudar em álgebra? – Candy fez cara de pidona, como uma criança de poucos anos de idade.
-Na verdade, eu não achei nenhum. – Jenny sorriu e logo voltou a escrever em seu caderno. Candy deixou seu rosto então ser tomado por um ar desesperado.
-E você diz assim nessa tranquilidade? Jenny, você sabe que eu preciso da sua ajuda, eu quase repeti ano passado por causa de álgebra, é uma enorme incógnita pra mim. – Candy bufou voltando a se virar pro quadro.
-Eu sei, Can, mas eu tenho clube de matemática, extracurricular de língua estrangeira, e programa de música, sem contar o curso especial pra física nuclear. – Jenny rolou os olhos com um sorriso vitorioso, como se admirasse a si mesma. Candy arregalou os olhos.
-Você é algum tipo de mulher biônica? Como consegue fazer tudo? Ou melhor, entender tudo isso, são matérias difíceis. – Candy fez carinha de choro.
-Can, somos amigas, eu não vou te deixar na mão, arranjei alguém pra te ajudar, até porque não sou a única gênio em matemática da escola. – Jenny riu.
-Modesta. – Candy riu. – Quem vai me ajudar? – Ela arqueou a sobrancelha.
-O Paul. – Jenny levantou as sobrancelhas para acompanhar um sorriso simpático.
-Paul... – Candy o observou de longe, sentado algumas cadeiras atrás da delas, junto a Michael. Ele parecia totalmente empolgado na resolução de algum outro problema de química. - Eu prefiro você. – Candy riu.
-Ah qual é, ele é melhor em álgebra do que eu, me ensinou tudo. – Jennifer o encarou rapidamente para dar uma piscadela marota para ele que sorriu.
-Vocês... estão juntos? – Candy franziu o cenho, tentando demonstrar pouco interesse.
-Não! – Jenny arregalou os olhos. – Paul é meu melhor amigo, fomos criados juntos, nossas mães são amigas desde a faculdade. – Jenny sorriu. – É sério, você vai gostar dele, é um ótimo tutor. – Disse.
-Mas vai pegar mal pra mim, ele é um nerd e eu uma líder de torcida. – Candy baixou o tom de voz para não ser ouvida por absolutamente ninguém. Jenny fez uma careta em desagrado.
-Candy, é álgebra e não um encontro. – Rolou os olhos. –Além disso, também sou uma nerd, lembra? – Ela disse espertamente.
-Ai, Jenn, eu sei, mas você é diferente, nem parece uma nerd, é tão descolada, cheia de atitude e legal, somos amigas, mas ele é homem, logo vão começar a espalhar boatos. – Candy riu vendo-o corar quando reparou seu olhar nele.
-Quer passar em álgebra ou não? É você quem sabe, ele está disponível, então escolha entre sua reputação que se acaba no próximo segundo após a formatura ou sua aprovação em álgebra que pode te dar uma vaga numa boa faculdade e decidir seu futuro. – Jenny sorriu após tagarelar. Candy ficou sem palavras, sabia que Jenny estava certa, por isso assentiu. Jenny riu. – Sem contar que pode debaixo dessa camuflagem de nerd, pode ter um cara maravilhoso... – Jenny rolou os olhos. – E um corpo também... – Ela riu. Candy levou as mãos aos lábios para conter a risada que lhe quis vir.
-É mesmo? – Candy riu baixinho. – Ele é bonitinho mesmo. – Ela voltou a encará-lo, mas dessa vez sem que ele notasse. – Tudo bem, pode falar com ele, na semana que vem, na minha casa às duas da tarde. – Candy disse já se levantando com o sinal da escola que anunciava o fim da aula.
-Tudo bem. – Jenny sorriu.
-Jenn, obrigada. – Candy piscou já caminhando na direção da saída. Jenny correu para Paul assim que Candy sumiu atrás da porta. – Eu consegui. – Ela gargalhou.
-Tá falando do que, doida? – Paul riu.
-Semana que vem, às duas horas na casa da Candy, realizei seu sonho? – Jenny deu um empurrão em Paul com uma das mãos enquanto ele arregalava os olhos em desespero.
-Na casa dela? – Ele perguntou. Jenny assentiu. – Pra fazer o que? – Paul gaguejou.
-Idiota, pra dar aula de álgebra pra ela. – Jenny rolou os olhos.
-Ata. – Paul disse aliviado.
-Tudo bem, eu vou ignorar a maldade que passou na sua mente. E não me agradeça, porque está me devendo uma. – Jenny piscou caminhando na direção da saída da sala.
Duan encarou Rachel caminhando pelo corredor e não hesitou em apressas seus passos para alcança-la ao constatar que Belatrix já havia saído dali pra ir pra sua segunda aula. Ela não percebeu sua chegada até que ele a segurou delicadamente pelo braço virando-a pra ele, algo que a fez suspirar e sorrir logo em seguida. Duan sorriu também com as bochechas um tanto coradas.
-Oi...-Ele disse simpático fazendo-a corar as bochechas num ato envergonhado também.
-Oi, Duan... – Rachel disse amigavelmente.
-Eu só queria pedir desculpas pela atitude da Bella na festa. – Duan falou fazendo-a suspirar. – Ela é ciumenta, mas quero que saiba que eu não concordei e não concordo ainda com o modo como ela tratou você. – Duan completou.
-Tudo bem. – Rachel sorriu. – Obrigada por se importar. – Ela riu frouxo.
-Não precisa agradecer. – Duan sorriu carinhosamente. – Eu perdi o episódio de ontem do nosso seriado favorito, então pensei que você pudesse me contar... – Duan disse fazendo-a sorrir. Apesar de saber que era mentira dele, pois de fato tinha assistido, mas ainda assim queria ouvir a voz suave dela falando qualquer coisa que fosse pra ele.
-Acho que eu posso. – Rachel riu. – Mas eu tenho que ir à biblioteca agora, preciso pegar uns livros pro meu trabalho de geografia. – Ela fez uma careta.
-Ah e que lugar melhor pra conversar senão a biblioteca? – Ele falou numa careta fazendo Rachel rir com as bochechas vermelhas.
-Tudo bem então. – Ela disse e logo os dois começaram a caminhar juntos em direção a biblioteca que ficava ao fim do corredor.